10 março, 2010

Automobilismo: Fórmula Indy x Fórmula 1: naturezas distintas

Eles são monopostos (um só lugar), têm quatro rodas, motores fortíssimos e passam até por carros da mesma categoria ao olhar de alguém com leve miopia. Mas há muitas diferenças entre os bólidos da Fórmula 1 e da Indy.

Para começar a entender o que faz as categorias serem tão diferentes é preciso voltar às origens do automobilismo: na Europa (berço da F1) as corridas em estradas levaram à construção de autódromos e ao uso de circuitos mistos (com retas e curvas para os dois lados), além de traçados de rua. Nos Estados Unidos (país de origem da Indy), as corridas em ovais se consolidaram principalmente graças à tradicional 500 Milhas de Indianápolis. Com isso, os modelos feitos somente para circuitos fechados e de rua (caso da F1) tornaram-se bem diferentes dos carros construídos para ovais onde se anda a cerca de 350 km/h o tempo inteiro. Mesmo assim, os modelos da Indy são versáteis a ponto de andarem em autódromos e provas de rua (com aerofólios e spoilers bem maiores, que mudam bastante o visual das máquinas), como a que será realizada domingo (14) em São Paulo.

Outra diferença fundamental diz respeito ao regulamento de construção dos bólidos. Na Fórmula 1, toda equipe deve ter um projeto próprio de chassi. O motor também pode ser feito, mas a FIA abre a possibilidade de que eles sejam comprados de um fabricante independente (caso das equipes novas, que usarão propulsores da Cosworth) ou de uma montadora (como a Red Bull, que usa blocos da Renault). Com a obrigatoriedade de construção do chassi (o regulamento estabelece que as equipes devem ter “direitos sobre a propriedade intelectual” dos carros, ou seja, precisam ter um projeto próprio que não pode ser copiado sob pena de exclusão do Mundial), os custos da Fórmula 1 chegam a orçamentos anuais de US$ 400 milhões (cerca de R$ 720 milhões).

Na Indy as equipes não são obrigadas a construir seus carros. Os chassis fornecidos pela Dallara são os mesmos para todas as equipes, assim como os motores Honda e os pneus Firestone - na F1, apenas os pneus são iguais para todas as equipes, algumas compartilham motores e todas devem ter seus próprios chassis. Com pacotes muito semelhantes, o que faz uma equipe vencer ou perder na Indy é o orçamento, a experiência dos engenheiros para achar o melhor acerto e o braço do piloto, que escolhe junto ao seu engenheiro que configuração vai usar para os treinos e a corrida.


Motores dez vez mais potentes que os de carros populares

Os propulsores da F1, desde a temporada de 2007, devem ter 8 cilindros dispostos em V (V8) e 2.4 litros de capacidade cúbica. Isso mesmo: apesar de terem 4 cilindros a mais que a grande maioria dos carros que rodam nas ruas brasileiras, os F1 tem cilindrada apenas 1,4 superior aos populares 1.0.

Foto: Getty Images

Com altíssima tecnologia na construção, obrigação de durar pouco mais de dois GPs (um carro de rua deve resistir a centenas de milhares de quilômetros) e materiais nobres, os motores de F1 atuais têm cerca de 750 cavalos de potência contra uma média de 70 cv dos hatches compactos que compramos por pouco mais de R$ 20.000. Sentiu a diferença da tecnologia?

Na Indy, os blocos também são V8, mas tem maior cilindrada: 3.5 litros. Mesmo assim, com a limitação de giro a 10.300 rpm (os Fórmula 1 são limitados a 18.000 rpm), eles têm cerca de 650 cavalos de potência. Mas nem por isso deixam de levar os bólidos a mais de 400 km/h em circuitos ovais. Uma curiosidade: os motores da Indy são movidos a etanol (o nosso álcool), enquanto os da F1 usam gasolina.

Na F1 atual, os modelos chegam a "top speeds" de até 350 km/h em circuitos como Monza, na Itália. Na era dos motores V10 na F1, que durou até o fim de 2006, os bólidos europeus chegaram a cravar 370 km/h em Monza. A potência dessa época? Cerca de 950 cavalos.

Na Fórmula 1 ou na Indy, devagar ninguém anda.


Peso pena + potência alta + aerodinâmica eficiente

Em 2010, os carros de Fórmula 1 terão peso mínimo de 620 kg incluindo o piloto. Os da Indy devem pesar 694 kg em circuitos ovais e 725,7 kgm em pistas mistas e de rua, mas sem contar o piloto a bordo.

Com os 70 kg médios de um piloto, um Fórmula Indy pesa 195,7 kg a mais que um F1. Junte a isso os freios mais eficientes e a aerodinâmica refinada do F1 e você entenderá por que eles são os carros mais rápidos do mundo em autódromos (desconte, é claro, modelos de arrancada como os dragsters, que não fazem curvas).

Mas a diferença não é muito grande nos tempos de volta. Quando a Indy correu no circuito canadense Gilles Villeneuve, tradicional palco da F1, os bólidos foram, em média, de 3 a 4 segundos mais lentos que os da F1.

Você pode estar se perguntando por que a Indy não corre em Interlagos para podermos fazer novamente essa comparação. O motivo é simples: Bernie Ecclestone, dono dos direitos comerciais da F1, exigiu que o contrato da FOM (Formula One Management) com a Prefeitura de São Paulo impedisse a realização de corridas de categorias tops do automobilismo mundial em Interlagos. Ecclestone faz isso em quase todos os circuitos do mundo para manter a exclusividade dos traçados para a F1 - o caso da pista canadense foi atípico.

Com essas e com outras, o baixinho inglês mantém a Fórmula 1 no topo do automobilismo mundial. A Indy? Continua à procura de seu Ecclestone.


Ficha técnica

Fórmula 1

Motor: 2.4 V8 (feito pela equipe ou comprado)

Chassi: próprio

Pneu: Bridgestone para todas as equipes

Peso: 620 kg (carro + piloto)

Potência: cerca de 750 cv

Comprimento: cerca de 4,80 m

Largura: 1,80 m


Fórmula Indy

Motor: 3.5 V8 Honda para todas as equipes

Chassi: Dallara para todas as equipes

Pneu: Firestone para todas as equipes

Peso: 694 kg (ovais) ou 725,7 kg (circuitos mistos e de rua)

Potência: cerca de 650 cv

Comprimento: 4,90 m

Largura: 1,98 m (1,25 cm a mais ou a menos)

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